Oi gente! Tudo certinho?
Essa edição vem com uma mudança radical. Talvez vocês já tenham percebido, mas a newsletter agora tem nome e identidade visual. Antes ela tinha apenas o meu nome e agora ela chama: PUSH A PORTA. E vou explicar o porquê.
Desde a primeira porta norte americana que eu fui abrir e vi o adesivo “PUSH”, eu tenho experenciado episódios de constragimento. (Ajuda no inglês: a tradução de PUSH é EMPURRE. Claro que a tradução tinha que ser o oposto, se não, não teria graça). Toda vez que eu vejo essa palavra, eu tenho que fazer um esforço pra lembrar se devo puxar ou empurrar a porta e as vezes, mesmo depois de certo esforço, eu puxo. A princípio achei que era uma vergonha minha, mas com o tempo, conversando com outras pessoas, descobri que muita gente passa por essa mesma dificuldade mesmo morando há séculos aqui nos EUA. Pois então minha gente, o nome dessa newsletter agora é “PUSH A PORTA”, porque ela representa algo que nos une. Além disso, eu gostei da associação “abrindo a porta para entrar no desconhecido” com o momento que chegamos em outro país. Eu fiquei super empolgada quando tive a ideia e quando sobrou um tempo, criei o desenho (adicione aqui a opinião de algumas amigas talentosas também). E aí, gostaram?
E vamos ao caso de hoje.
Desde a pandemia, eu decidi assinar a Globoplay aqui em casa pelo simples motivo de “ajuda a matar a saudade do Brasil”. Então, estava eu passando os canais (meus favoritos são GNT e Canal OFF), quando passei pelo programa do Claude Troisgros1, “Que Marravilha!” no GNT. Pelo que entendi, (long story short) ele cozinha a versão dele de um prato típico de uma família e a mesma avalia se ficou bom ou ruim. O que me chamou a atenção é que era uma família de descendência japonesa (o nome do episódio é “T17:E12 - A Okinawana Exigente”) e eles, sem nenhum contrangimento, falaram que não gostaram da versão que o chefe fez do prato deles. O Claude, sem prever tanta sinceridade, começou a ficar um pouco chateado.

E foi aí que eu pensei: a maioria das famílias que participam do programa devem falar que ficou DELICIOSO mesmo sem ter ficado. (Justo. Eu faria o mesmo. Fiquei constrangida só de ver o episódio). A decisão da família Okinawana imagino que foi a de colocar a tradição da família em primeiro lugar, ou seja:
O prato tá feito errado, diferente da receita, logo, não tá bom.
Falar a verdade, arriscar constranger um chefe de cozinha famoso e comprometer o clima do programa ou manter a sinceridade e a tradição da cultura da família? Manter a tradição.
Eeeeu já ia prezar pelo clima da experiência. Ia pensar: “não vai mudar em nada minha vida se eu falar pra esse cara que esse prato não tá nem parecido com o que eu faço.” No máximo eu daria um feedback sanduíche.
Isso me fez lembrar da newsletter da Luiza Dreasher2, “Mastering Cultural Differences”. A Luiza fala que cada cultura possui nuances sutis na forma de se comunicar e, não entender elas, pode causar um ruído de comunicação. Um exemplo é um brasileiro pedindo comida nos EUA. Se ele falar no restaurante: give me a hambuger. (Me dá, um hamburger, assim como nós falaríamos no Brasil), o garçom vai achar ele rude. Assim como se tu chegares em um restaurante no Brasil e falar: eu posso pedir um hamburger? (inclusive já fiz essa, sem querer), o garçom vai te dizer: meu filho, pode pedir o que quiser, desde que pague.
Enfim, o que passou pela minha cabeça assistindo o episódio é que, cada pessoa vai agir de uma forma de acordo com a personalidade, vivência, cultura, local onde vive... É tudo uma questão de perspectiva. Basta entender que as pessoas são diferentes e pensam de maneiras diferentes.
O Claude é um chefe de cozinha francês bem conhecido e já mora no Brasil há algum tempo. Tem uns 4 restaurantes no RJ e é sócio de um em NYC.
A Luiza é brasileira e vive nos EUA também. Ela é dona de um negócio que implementa programas de educação cultural para empresas e organizações.
Muito interessante, Ivy! 'Push' é realmente uma daquelas palavras que comprovam que nossa língua materna se instala em nós para nunca mais nos deixar (e ainda bem que o faz!) e nos recordar constantemente de onde viemos e quais são as nossas raízes. Como migrante, tenho diversas palavras do italiano que me ajudam a relembrar quem sou e qual foi a língua que sempre me apresentaram ainda no útero da minha mãe. Por incrível que pareça, minha constante estranheza entre as palavras 'escutar' e 'ouvir', em português, é uma dessas confusões que faço. Ah! Extremamente bem colocada a nova identidade visual da sua página, parabéns!
Eu amei demais o nome e a identidade visual! E quero ver muito essa cena tua 'pushando' a porta aqui de casa de malinha na mão ❤️
Me arrancou boas gargalhadas interpretando o garçom aqui no Brasil, amo que nas diferenças culturais a gente consegue perceber traços divertidos e que amamos (ou não gostamos) das nossas origens!