Parece que a segunda vez realmente é muito mais fácil que a primeira, apesar disso, pensei bastante no que escreveria. Acho que é pelo fato de que eu tô começando algo novo numa época que tá todo mundo wrapping up. Mesmo assim, decidi tirar um tempo aqui no Brasil e escrever esse segundo post. Desde que eu virei imigrante, o final de ano me deixa super emocionada, então vai que o que eu escreva aqui faça a diferença pra alguém né?!
E hoje lembrei de uma pintura que eu fiz durante um curso de pintura em acrílico no Museum of Fine Arts de Boston. Mas não foi exatamente da pintura que eu lembrei. Lembrei do feedback que uma pessoa muito especial me deu quando eu compartilhei com ela. A @rami_aquarelas. A Rami é uma artista incrível que me ajuda muito nessa jornada de artista e por isso, quando terminei esse desenho, compartilhei com ela. Ela me falou várias coisas que amei e a principal que me chamou atenção foi sobre a diferença do meu traço em determinados elementos da pintura.
Ela notou que no museu (sim, eu desenhei o próprio museu onde eu fiz as aulas porque simplesmente SOU APAIXONADA por aquele lugar) meu traço tava rígido, mais controlado, e no restante dos elementos, a pincelada tava mais solta e expressiva. Eu não tinha notado e quando ela me falou isso, de novo me veio aquele insight: essa sou eu imigrante! Às vezes parece que tenho duas personalidades: uma mais controlada e outra mais expressiva. Quando falo português, sinto que tô mais descontraída e quando falo em inglês, mais comedida. Não necessariamente nessa ordem, mas na maioria das vezes, sim.
Lembrei também da matéria da Luiza Sahd que, quando li, fez todo sentido pra mim. Ela comenta que quando falamos uma língua diferente, também viramos uma pessoa diferente. Somos mais racionais e menos emotivos quando usamos uma língua que não seja a materna para nos expressar. (Se clicar no link da matéria, dá pra ver os estudos científicos que levaram à essa conclusão. Além de o texto dela ser bem gostoso de ler).

(Talvez tu nunca tenhas assistido a novela mexicana “A Usurpadora” e por isso não entenda a imagem acima. Eu assisti e tenho uma amiga que amo que assistiu também, então eu achei essa referência engraçadíssima. A Gabriela Spanic dá um show de dramaticidade interpretando essas duas personagens.)
Parece que quanto mais leio sobre ser imigrante, percebo que tenho muito o que aprender mas, ao mesmo tempo, me tranquiliza saber que tem muita gente passando pelo o que eu tô passando. Reconhecer o que tô sentindo e saber que tem explicação científica pra isso me traz tranquilidade. Espero que te traga também.
Desejo um FELIZ ANO NOVO pra vocês e que nesse próximo ano tenhamos mais tranquilidade pra viver essa vida de imigrante!
Um abraço,
Ivy
Quando eu tava fora do Brasil também percebi essa mudança, quase que de personalidade heheh. Ao mesmo tempo que falar outra língua nos expõe a críticas e julgamentos dos nativos, também sinto que é um lugar novo, de liberdade de experimentação de elementos da nossa personalidade, que no meio que a gente já conhece, talvez não se sinta livre pra "experimentar"? Não sei se fui longe demais, mas será? Heheh
Bah essa questão da língua é muito real! Eu sou completamente outra pessoa no meu corpo falando em inglês, esses dias ainda falaram que eu pareço que estou gravando algo pq tudo soa sarcástico da forma que eu falo, fiquei sem reação pq não é o que eu quero passar para as pessoas 🤦🏻♀️