Sigo no Brasil tentando aproveitar ao máximo tudo aqui. Enquanto isso resolvi surrupiar a autobiografia da Rita Lee da minha mãe. O livro tava na minha lista de livros pra ler mas essa lista tá longa e ia demorar pra chegar a vez dele. Foi quando terminei o livro que trouxe comigo, Don’t Call Me Home da Alexandra Auder (achei bom até), olhei pro livro da Rita e comecei a devorar.
Foi lendo que descobri que a Rita era neta de imigrantes italianos (por parte de mãe) e americanos (por parte de pai). Eu já gosto muito dela, o que é motivo suficiente pra eu ler o livro, mas quando descobri isso, fiquei vidrada.
Tem um trecho que ela fala “Crescer sendo brasileira entre americanos protestantes/maçons e italianos ultracatólicos me deu uma panorâmica existencial de valores e bizarrices. Não é à toa que sou bipolar com um pé no trifásico.” Se tu já lestes algum post anterior, vais saber o que passou na minha cabeça quando li. “ESSA SOU EU IMIGRANTE!”
Depois tem outro trecho que ela fala “Na casa geminada à nossa morava uma família Hispano-polonesa fugida da guerra (…) Não demorou para las hermanas se apaixonarem pela nossa família Trapo e vice-versa. Era um tal de Nuestra Señora de las Mercedes pra cá, Nossa Senhora Aparecida pra lá, pão de aliche pra cá, farofa de mandioca pra lá. Nem precisava sair de casa, as muambas eram trocadas pelo muro entre as cozinhas de cada casa.” E isso fez eu me dar conta de algumas características que herdei dos meus amigos não-brasileiros.
1- Não consigo mais fazer feijão sem “merquén”. Um tempero chileno que herdei de uma amiga chilena.
2- Eu envio “buenos dias” no WhatsApp pra muitas pessoas, inclusive pra minha mãe que não fala nada de espanhol. (Não faço ideia quando isso começou mas imagino que tem a ver com a minha convivência com nossos amigos que falam espanhol).
3- Quando alguém propõe fazermos alguma coisa e eu topo, eu falo “dale”. (Essa tenho certeza que herdei dos nossos amigos argentinos).
Essas foram as características que me dei conta na hora mas tenho certeza que tem muito mais.
No fim das contas somos uma mistura de tudo que nos rodeia, saindo do nosso país de origem ou não. Antes mesmo de viajarmos pra outros países, alguns dos nossos familiares já vieram de outros lugares. Daí juntou com quem já tava aqui e deu essa mistura boa. Lembro de comentar isso uma vez com uma amiga que mora em Dubai e ela disse que quando perguntaram qual era a origem da família dela, ela disse: “de todos os lugares. Essa é a mistura do Brasil com o Egito.” Eu achei ótima essa referência com a música do É o Tchan! e sempre lembro dela desde então.

E pra finalizar, um trecho de uma música da Rita (R.I.P. Ritinha):
“No ar que eu respiro
Eu sinto prazer
De ser quem eu sou, de estar onde estou
Agora só falta você”
(Não falta ninguém a princípio mas tinha que colocar essa última parte pra rimar).
Um abraço,
Ivy
Estou gostando demais da sua escrita. Já estou te acompanhando por aqui e no Instagram! (:
Mistura boa mesmo. Tu não acha que essa mistura de cultura que temos aqui, nos faz sermos mais resilientes quando entramos em outras culturas? Sempre penso que isso ajuda a se mesclar nos mundos diversos