Uma entrevista e muitas reflexões
Técnico do Celtics faz pergunta para um jornalista brasileiro
Oi gente! Tudo certinho?
Hoje vai parecer que vou falar de futebol, e realmente vou, mas para aqueles que não são fãs, prometo que vale a reflexão.
Acho que nunca falei isso aqui mas, adoro assistir futebol. E, pelo fato de eu ser gaúcha tu já deves estar te perguntando: Inter ou Grêmio? A verdade é que em algum momento eu escolhi o Inter porque meu pai e meu irmão eram apaixonados pelo time, e eu não podia ficar de fora das comemorações deles, mas minha mãe era gremista (mudou por causa do meu pai e do meu irmão também), e meu marido é gremista (muito gremista). Como eu gosto bem mais da minha família do que de futebol, eu torço pelos dois. E não assisto apenas os jogos da dupla grenal, mas também assisto outros jogos dos campeonatos brasileiros, Libertadores, Champions League, Copa America, Copa do Mundo (óbvio)…
A verdade mesmo é que sou fã de esportes e, desde que mudei para os EUA, tenho tentado entender todos os esportes daqui que não são populares no Brasil. O futebol americano é o mais popular, porém não me pegou. Até consegui entender o caminho a ser feito para o touchdown, mas assisto apenas ao Super Bowl, principalmente pelos comerciais. O nível de agressividade das jogadas me deixa confusa na hora de avaliar uma falta.
Já o basquete me pegou e, como eu moro em Boston, naturalmente virei torcedora do Boston Celtics. Além disso, meu marido e meu irmão viraram torcedores do Celtics também. Desta vez, consegui conciliar família e esporte. Adoro comentar os jogos ao vivo com meu marido e pelo Whats com meu irmão.
Na semana passada, o Celtics venceu o Dallas Mavericks no campeonato “mundial” de basquete, e consegui ir na parade de comemoração da vitória. Vi o Tatum segurando a taça do campeonato, o Brown a taça de MVP, o Joe Mazzulla, o Porzingis, Horford e o White, todos de pertinho. Queria ter visto o Holiday também, mas acho que ele não participou.
Também acompanho algumas entrevistas. Antes do jogo 3 da final, houve uma coletiva de imprensa que chamou minha atenção, onde o técnico do Celtics, Joe Mazzulla, conversou com o jornalista da ESPN Brasil, Ari Aguiar. Segue o link da entrevista caso alguém queira ver. É a primeira pergunta e continua no minuto 10:28. (Tem legenda em inglês).
O Ari é narrador da ESPN das ligas de basquete, futebol americano, hockey e baseball. Ele começa falando sobre Jayson Tatum, um dos melhores jogadores do Boston, mencionando que Tatum já marcou 50 pontos em um jogo de playoff, o que é impressionante, e que ele é capaz de repetir isso a qualquer momento. E segue falando que no primeiro jogo, o Porzingis disse que o próprio desempenho foi graças ao Tatum. (Porzingis marcou 20 pontos no primeiro jogo. Algo impressionante também pra um jogador que não é considerado um dos melhores). E o Holiday (que fez 26 pontos no jogo 2) disse a mesma coisa. Fez graças à ajuda do Tatum. Aí vem a pergunta do Ari pro Mazzulla: você acha que nós estamos acompanhando a melhor performance do Jayson Tatum nessas finais? E o Joe responde: sim, eu acho que tá bem perto da melhor versão dele. Eu acho que, por causa do tipo de jogador que ele é, por causa da versatilidade dele, sempre vai parecer diferente. Ou seja, ele quis dizer que nem sempre o JT vai fazer muitos pontos, mas que isso não faz dele um mau jogador, porque o importante não são somente os pontos que o jogador faz. E ai vem a parte boa. O Joe vira pro Ari e pergunta se ele mora nos EUA ou no Brasil e ele responde: Brasil. Ao passo que o Mazzulla fala que esse é provavelmente o motivo pelo qual ele fez a pergunta do jeito que ele fez. Nenhum americano faria isso. Segundo ele, os americanos olham o basquete com outra perspectiva. Eles pensam que nunca nada tá bom o bastante. É sempre sobre “o que você pode fazer por mim agora?”. E nem sempre é o caso nesta situação.
Não preciso nem dizer que já me emocionei aqui nessa comparação dele, né?! E olha que eu não gosto muito quando alguém defende algo dizendo que no Brasil é assim ou nos EUA é assado, porque nunca é sobre o país. Eu conheço brasileiros com a mentalidade do “o que você pode fazer por mim agora?” e conheço americanos que consideram todo o contexto, como o Ari fez. Mas o ponto aqui é que o Ari Aguiar mandou muito bem na pergunta dele. Ver um brasileiro se destacando como jornalista e sendo reconhecido por um técnico campeão da NBA enche meu coração de orgulho. Ver alguém que mora aqui chamando atenção para uma característica nossa e mostrando que isso é bom valida algo dentro de mim.
Em todas as minhas interações aqui nos EUA, sempre tento entender a personalidade e as diferenças culturais da pessoa com quem estou conversando, mas essa entrevista reforça algo que está cada vez mais gritante aqui dentro de mim: seja você mesma. Me apropriar do meu diferencial. Tenho muito a aprender e sempre quero estar aprendendo, mas também posso ensinar.
Eu já podia parar por aqui porque só essa parte da entrevista já gerou material suficiente pra eu ficar ponderando várias coisas, mas teve mais. Depois de responder todas as perguntas dos outros jornalistas, o Mazzulla vira pro Ari e pergunta: quem você acha que teve uma adaptação mais difícil à mídia e às críticas (entre os jogadores do Celtics e da seleção brasileira de futebol)? Ele diz que a lente com que os jogadores de futebol brasileiros são vistos é muito semelhante com a forma que os atletas do basquete americano são vistos pela mídia. Daí ele dá o exemplo da representatividade do Neymar na seleção e também fala do Endrick, que provavelmente vai sofrer essa pressão também.
A conversa segue mais um pouco mas gente, só essa parte já blowed my mind.
1º ponto - Que cara f*da esse técnico do Celtics, hein?! Só nessa conversa ele falou que estuda a situação do futebol no Brasil, a mídia, os jogadores (falou até do Endrick!) e a forma como os técnicos de futebol são cobrados (falou que é impossível ser técnico no Brasil). Provavelmente porque também duvidaram da capacidade dele devido à idade e à forma como assumiu o time do Celtics.
2º ponto - Concordo com tudo o que ele disse. Neymar pode ter feito várias coisas que eu não apoio, mas com certeza a pressão que ele enfrentou como jogador foi enorme, especialmente considerando a importância do futebol no Brasil. E agora pensa se ele teve o mesmo preparo que Joe Mazzulla está tendo para lidar com toda essa situação. Food for thought.
Logo mais tem Brasil x Paraguai. Prometam que vão lembrar disso se forem assistir o jogo? Eu vou.
Agora, pra quem tá animado com a Copa América e a seleção brasileira, aqui vai uma playlist que eu fiz pra Copa do Mundo. Não ajudou a ganhar, mas ajudou a “ficar mais pertinho” do Brasil.
Se alguém tiver sugestões de músicas para adicionar, mandem! E, como sempre digo, se quiserem escrever para comentar sobre este post ou qualquer outro, por favor, façam! Eu adoro!
Beijo, gente!
Amei teu texto! Incrível como não dá vontade de parar de ler, mesmo sendo um assunto que não me atrai! Valeu a pena ficar até o final e compartilhar das tuas reflexões! Parabéns!
adorei essa edição! tenho preguiça crônica de acompanhar notícias de esporte, mas não me incomodei em nada lendo esse texto. ótimos ângulos e observações seus :)
obrigada pela reflexão.