Depois da surpresa com o tema do futebol na última edição, venho por meio deste informar que teremos algo diferente novamente, mas claro, ainda dentro do assunto imigração, pertencimento e etc.
Tô fazendo um curso de escrita com uma pessoa maravilhosa, a Larissa Rinaldi, que é uma imigrante e mora em NYC. Inclusive, ela escreveu um livro sobre isso (que eu devorei). Além dela, conheci outras pessoas maravilhosas, que estão fazendo o curso comigo e também se aventurando no mundo da escrita. Tô amando!
Semana passada a Lari compartilhou com a gente um exercício para escrever uma crônica, coisa que eu nunca havia feito antes, e eu resolvi arriscar. Então, nesta edição da newsletter, vou compartilhar com vocês a crônica que eu escrevi.
Mas antes disso, quero compartilhar mais uma influência, além da Lari, que eu tive pra escrever. Acho que, com o avanço da tecnologia, fomos perdendo a consciência da importância das outras pessoas na nossa vida, por isso, gosto de reconhecer quando alguém tem participação nas minhas decisões.
Pois bem, o projeto de ensino de português para refugiados do qual eu faço parte, além das aulas, oferece clubes para que os alunos se conheçam, interajam entre si e pratiquem o português. Um desses clubes é o Clube da Leitura, que é comandado por outra pessoa maravilhosa, a Leonice. O clube já vem acontecendo há algum tempo e eu não havia conseguido participar dos encontros até então, porém, semana passada eu consegui. E, quando entrei na vídeo-chamada, percebi que o texto objeto de leitura era o conto “A Carteira”, do Machado de Assis. Como vocês já devem ter percebido, eu tô numa fase de exaltação do Brasil, o que foi motivo suficiente pra eu me empolgar com o conto. Além disso, a gringa Courtney Novak, que recentemente viralizou nas redes sociais idolatrando os livros do Machado, contribuiu para essa empolgação. Pronto. Entrei na chamada e ganhei meu dia. Eu já havia lido o conto em algum momento na escola e cheguei a conclusão que (alerta de spoiler) eu devolveria a carteira, como o Honório, mas foi muito bom relembrar. Enfim, foi a escolha da Léo de trabalhar o conto do seu Joaquim Maria no clube que me inspirou para escrever a crônica também. (Se alguém notar as influências e quiser me escrever sobre, por favor o façam!).
Agora, chega de enrolação, segue a minha primeira crônica:
Foi uma semana difícil para Joana. Toda vez que ela entra na famosa tensão pré-menstrual, fica mais sensível e irritada. Pra variar, ela só percebeu que estava passando pela fase e precisava de uma atenção especial depois de muita frustração.
Segunda e terça, reuniões, ir ao mercado, lavanderia, revisar relatórios… Começa a semana frustrada porque, pela quarta semana consecutiva, tenta organizar a planilha de gastos da família, mas não consegue porque o marido enrola e não a deixa pegar o celular dele e acessar a fatura do cartão de crédito. “Tu sabes que o aplicativo do banco faz essa organização das despesas no próprio aplicativo, né?!” diz ele. Joana, irritada, responde: “Achei que já havíamos combinado que eu organizaria nossas despesas dessa forma.” Mas opta por não dar continuidade na conversa.
Quarta-feria, enxaqueca (pra variar), relaxante muscular, compressa de gelo na cabeça, antes que seja tarde demais e ela comece a vomitar. Desde que se mudou do Brasil para os EUA, suas dores de cabeça parecem ter piorado. Além disso, teve uma discussão com o marido porque percebeu que os programas que os dois tem feito juntos parecem estar seguindo mais o gosto dele do que o dela.
Quinta, aula de tênis e mais frustração. Precisa corrigir todos os seus movimentos. Perdeu uma partida e ganhou a segunda por pouco; e a que ganhou se convence de que foi porque jogou muito mal e a outra dupla não conseguiu dar continuidade ao jogo. No meio da aula, se dá conta de uma coisa que vem ocupando cada vez mais espaço na sua cabeça: precisa defender mais suas vontades.
No fim do dia, quando ela acha que a semana já estava perdida, uma surpresa: o marido a convida pra ir assistir ao espetáculo “OVO”, do Cirque du Soleil. Comprou os ingressos há mais de um mês e não contou nada a ela. Como ele conseguiu? Ela mesma teria morrido de ansiedade se tivesse que guardar um segredo por tanto tempo. Por isso, não a deixava acessar a fatura do cartão de crédito.
Sexta-feira, o espetáculo. Para avaliar o impacto da ação do marido, é preciso saber que Joana é uma artista e adora tudo relacionado à arte, incluindo teatro. Eu diria que, na quinta, após a notícia da compra dos ingressos, já se pôde notar a mudança do humor dela.
Às 7 pm começa o espetáculo e Joana está radiante. Logo no início, se emociona porque a trilha sonora parece familiar, mas acha que é apenas empolgação. Segue muito emotiva sem entender exatamente o porquê. Performance, roteiro, artistas, diálogos, produção, música… Joana está em êxtase. No intervalo, o marido vai ao banheiro e, quando volta, conta que escutou a conversa de dois espectadores e que um deles fez um comentário que esclareceu muita coisa: o compositor e diretor musical do espetáculo é brasileiro.
E essa é a minha primeira crônica. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. 😁
Acho válido falar que pesquisei mais sobre o espetáculo “OVO” e tô apaixonada. O diretor musical da peça é o Berna Ceppas, compositor brasileiro. Nesse vídeo aqui embaixo, ele fala um pouco mais sobre a trilha sonora da peça e sobre a música brasileira. É em inglês e tem legenda em português. As legendas não tão AQUELA coisa, mas acho que dá pra entender.
Espero que gostem da crônica e da edição. Eu gostei.
Um beijo e se cuidem.
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Gente, preciso “abrir um parêntese” aqui pra agradecer os comentários de vocês. Escrever é tipo caminhar em um quarto escuro onde eu nunca estive antes: o caminho é incerto. Quando vocês comentam, é como se entrassem no quarto com uma lanterna. Eu tô AMANDO receber notificações do nada de comentários nas postagens. Obrigada!
Amada!! Adorei tua crônica!! Texto leve, com coerência e com a sensação de que o mesmo terá continuação!!! Parabéns!! Ansiosa pelo próximo!!! Parabéns!!!
Ivy! Parabéns pela primeira crônica! Eu simplesmente adorei! É impossível começar a ler tua newsletter sem devorar o texto até o fim! Fica aqui o sentimento de “quero mais”.
Amada!! Adorei tua crônica!! Texto leve, com coerência e com a sensação de que o mesmo terá continuação!!! Parabéns!! Ansiosa pelo próximo!!! Parabéns!!!
Ivy! Parabéns pela primeira crônica! Eu simplesmente adorei! É impossível começar a ler tua newsletter sem devorar o texto até o fim! Fica aqui o sentimento de “quero mais”.