Oi, gente! Tudo certo? Espero que sim.
Agora finalmente tô em solo estadunidense, tentando botar tudo em ordem. Passei um mês no Brasil e, como sempre, tiro férias de tudo (ou quase tudo). Ainda tô processando os dias que passei lá, como todas as vezes que vou. Considero um intensivo de família e da primeira cultura a qual tive contato, por isso “processando”, mas já estou de volta a ativa.
Foi no meio de uma limpeza no meu e-mail, que me deparei com algumas recomendações de TED Talks e uma delas me chamou a atenção: a da Taiye Selasi (gente como eu não sabia da existência dessa mulher antes?) que chama “Don't ask where I'm from, ask where I'm a local”. Traduzindo fica mais ou menos assim: não me pergunte de onde eu sou, pergunte-me onde eu sou uma local. (A tradução não ficou muito boa. Segue lendo que vais entender).
A Taiye é escritora e tem mestrado em relações internacionais. Nasceu em Londres, foi criada em Brookline, Massachusetts (onde eu moro atualmente) e os pais dela tem descendência ganense e nigeriana. Por causa do background dela, ela disse que ficava confusa quando perguntavam de onde ela é. Basicamente ela defende que dizer que somos de um país é algo limitante. Saber de qual país somos não diz quem somos. Segundo ela, a nossa identidade depende das experiências que a gente vive e as experiências que a gente vive são “locais” e não “nacionais”. Somos “locais” onde realizamos nossos rituais do dia-a-dia, temos nossos relacionamentos (amigos, família, colegas…) e também onde sofremos restrições. (Restrições no sentido de não poder estar em algum lugar específico por questões de segurança, por exemplo. Isso te obriga a estar em outro lugar). Baseada nisso, a Taiye se descreve como uma “local” de Nova Iorque, Roma e Acra. NY porque foi onde ela começou a trabalhar, Roma porque ela viveu lá por um tempo e Acra porque é onde os pais dela vivem atualmente e o lugar que ela visita uma vez por ano pelo menos.
Gente, preciso falar que se eu for levar isso em consideração, sou local de muitos lugares então. Nasci e vivi boa parte da minha vida em Camaquã, RS. Uma cidade de interior super pequena. Além disso, toda minha família segue lá. As minhas férias de verão eu sempre passava em Arambaré, RS, uma cidade menor ainda que eu gosto de revisitar quando dá. Depois me mudei pra fazer faculdade em Pelotas, RS. No meio da faculdade conheci meu marido que morava em Porto Alegre, RS e eu passei algumas temporadas lá em POA. Depois disso mudamos para Hanover, NH nos EUA, onde meu marido fez MBA. Terminando o MBA, mudamos pra Minneapolis, MN, onde eu trabalhei em um escritório de arquitetura que tinha projetos em Gana também. Tive que aprender MUITO sobre a cultura de Gana pra conseguir trabalhar nos projetos. Infelizmente não consegui ir pra Gana por causa da pandemia, mas pintei uma tela inspirada nas minhas conversas sobre Gana e Brasil com meu colega de trabalho que era de lá.
E por fim (por enquanto), mudamos pra Brookline, MA. Eu não me considerava uma local aqui, mas depois de ouvir a Taiye, acho que já posso sim. (No primeiro post eu contei qual é minha bakery favorita e adivinha onde fica?)
Ufa! Quanta coisa que eu nunca tinha parado pra refletir. Escrevendo aqui fui me dando conta dos meus rituais, relacionamentos e restrições que estão relacionados com todas essas cidades por onde já passei. Aprendi e sigo aprendendo muito nesses lugares! Fora que depois de ouvir esse TED, não sei mais como responder a pergunta “de onde eu sou?”. Tenho que pensar o que vou dizer na próxima vez que me perguntarem. Será que consigo resumir esse post? Acho que não!
E tu? Onde tu te consideras uma local?
Estamos quase completando 2 anos aqui (Arlington/ Massachusetts) mas ainda me sinto local do RS. Mas e SP? Por mais que muitos digam o contrário e apesar da insegurança ao sair nas ruas por lá, SP ganhou meu coração durante 4 anos que vivemos por lá… De volta ao RS, realizei o sonho de morar por um ano em Gramado, mas minhas raízes (e meus amados pais, sogros e amigos) ainda estão em São Jerônimo. Isso tudo é muito doido, pois se for parar para pensar, também me sinto local aqui! Enfim… lá vou eu ficar refletindo sobre mais um texto incrível teu! 😘
Eu ainda me considero local de SP, apesar de morar na Flórida há quase 3 anos e já ter morado nos EUA outras vezes. Mas me sinto cada vez mais "local" por aqui. Quando estou aqui sinto falta de coisas bem específicas e locais de lá, e vice-versa. Acho que serei local de mais de um lugar mesmo, por um bom tempo - talvez pra sempre.