



Oi, gente!
Long time no see, ou long time no write.
Confesso que esta foi a edição mais "dolorosa" de escrever. Tanta coisa aconteceu nos últimos tempos que demorou um tempinho para processar tudo aqui dentro. Ainda está em processo, na verdade. Nestes poucos mais de 30 dias sem postar aqui, parece que passaram anos.
Acho que, a esta altura, todo mundo já sabe sobre a situação de calamidade no Rio Grande do Sul causada pelas chuvas. (Ou seria causada por nós mesmos?). Como gaúcha, sinto que tenho tanto para sentir e falar sobre isso, mas, ao mesmo tempo, morar fora há algum tempo me fez questionar o quanto consigo sentir/ajudar. Vejo muitas fotos e vídeos de lugares que conheço devastados pela água, pessoas que perderam tudo, e fico muito triste, mas parece algo tão superficial perto de quem está vivendo isso na pele ou pelo menos está lá perto e consegue ajudar de outras formas, além da doação de dinheiro. Não ter uma casa lá que possa servir de abrigo para alguém e estar a milhares de quilômetros de distância me fez perceber que não pertenço mais tanto ao Rio Grande do Sul como achava que pertencia. E isso me deixa triste e angustiada.
Ficar triste me deixou sem vontade de escrever e me fez questionar se fazia sentido postar aqui. Além disso, existem milhares de pessoas compartilhando material sobre o que está acontecendo, para entender melhor a situação, como ajudar, etc. Mas resolvi escrever porque, enquanto fico sem postar, continuo ganhando assinantes da newsletter, então parece que alguém está interessado em ler o que escrevo. Vai que ajude alguém, certo?!
Então, vamos lá. No meio do meu processo de assimilação de tudo que aconteceu, se eu puder compartilhar o que me ajudou/ajuda a encarar toda essa situação de longe, seria isso:
Me conectar com as pessoas próximas à mim. Depois de ouvir uma psicóloga solicitando que outras pessoas da área se voluntariassem para realizar atendimentos para as pessoas impactadas pela enchente poderem falar sobre o que aconteceu, percebi que as pessoas mais próximas a mim também precisam conversar sobre o que aconteceu. Ou sobre qualquer coisa que esteja incomodando elas. Então, parar para ouvir alguém (e ouvir, eu quero dizer ouvir mesmo, com atenção e sem querer adicionar algo assim que a pessoa começa a falar), acredito que seja de grande valia para ajudar nesse momento e em qualquer outro. E por que as pessoas próximas? Porque às vezes a gente procura alguém pra ajudar e não se dá conta de que as pessoas próximas precisam de nós também.
Cuidar de mim mesma e da minha saúde mental. Talvez esse segundo tópico tivesse que ser o primeiro de todos, mas, como a maioria de nós (incluindo eu) sempre pensa em ajudar o outro antes de ajudar a nós mesmos, coloquei em segundo. Não que seja a coisa errada a se fazer, mas, quanto mais leio e entendo sobre ajudar, mais percebo que não consigo ajudar alguém se eu não estiver bem comigo mesma.
Comecei a ler recentemente o livro da Brené Brown, Atlas of the Heart, e tô adorando. Pelo título, parece algo super romântico, mas passa longe disso. Aqui vai uma parte do livro que achei ótima (o livro é em inglês, mas já coloquei uma tradução minha pra nos poupar linhas e tempo):
Sem compreender como nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos funcionam juntos, é quase impossível encontrar o caminho de volta para nós mesmos e uns para os outros. Quando não entendemos como nossas emoções moldam nossos pensamentos e decisões, ficamos desconectados de nossas próprias experiências e uns dos outros.
O livro explora oitenta e sete emoções e experiências que definem o que significa ser humano. Identificar essas emoções e onde elas aparecem no meu dia-a-dia tá sendo ótimo. Descobri que evito sentir sentimentos "negativos" como tristeza e raiva, só que descobri também que eles não são negativos. Pelo contrário, são imprescindíveis para nossa saúde mental. Ruim mesmo é se eu fosse feliz o tempo todo, aliás, impossível.
E aí entra outra parte do livro que também achei ótima:
As pessoas farão quase qualquer coisa pra não sentir dor, incluindo causar dor e abusar de poder.
Ou seja, quando a gente não processa nossos sentimentos direito, acabamos descontando nos outros.
Infelizmente esse livro é em inglês e até o fechamento dessa edição não havia tradução para o português, mas tem uma série sobre ele na HBO que tá disponível no Brasil.
https://www.max.com/shows/brene-brown-atlas-of-the-heart/dfad262e-b764-4b92-ae63-72886f8a0d81
Assisti o primeiro episódio pra poder recomendar aqui e amei.
E por último, mas não menos importante, pensar o que tu podes fazer para reduzir o impacto das mudanças climáticas. Claro que esse é um tópico que não tenho muita propriedade pra falar. E buscando nas minhas referências, o material mais interessante que eu li sobre foi o livro do fundador da marca Patagônia, Yvon Chouinard, Let My People Go Surfing. O Yvon conta como fundou a empresa e as diretrizes às quais foram seguidas para a criação da mesma. A sustentabilidade é a principal delas. Eu adorei e comecei a repensar muitas atitudes minhas depois que li. Lembro de escolher ele pra ler porque achava que lucrar e ser sustentável era algo quase impossível, mas parece que ele deu um jeito. Hoje em dia a Patagônia não é mais dele porque ele doou a propriedade da empresa para um fundo que garante que os lucros sejam usados no combate às mudanças climáticas.
(Eu queria muito indicar um material em português aqui, mas infelizmente, até o momento que eu dei por encerrado esse post, todos os conteúdos que encontrei em português tinham viés político, ou eu não concordava com alguma coisa. Inclusive, se alguém quiser compartilhar algo aqui nos comentários ou privado, eu vou adorar).
Enfim, essas são as 3 dicas que eu gostaria de compartilhar com vocês que me acompanham aqui. Espero que faça sentido pra vocês.
Além dessas dicas, claro, gostaria de compartilhar duas formas de doar para o RS, caso ainda não tenhas encontrado uma segura. Muita gente já doou e isso me deixa muito feliz, mas estamos apenas no começo de uma reconstrução e reestruturação do estado. Muita coisa ainda precisa ser feita.
A primeira é a Central Única das Favelas. A CUFA foi fundada há 25 anos por jovens da favela Cidade de Deus e hoje lidera movimentos sociais e emergenciais em todos os estados e outros 41 países. Ela mobilizou uma campanha solidária para vítimas da enchente no Rio Grande do Sul. Segue o link para mais infos: https://cufa.org.br/doar/
E já que estamos aqui por causa de um interesse em comum, a leitura, vou indicar o projeto do escritor Eliandro Rocha que visa a reconstrução do acervo literário das bibliotecas do RS. Foram 1044 escolas totalmente submersas pelas águas só na rede estadual de ensino, então, se tu se interessares por fazer doação de livros, aqui vai o link para mais informações:
E é isso gente. Espero que estejam todos bem. Aos novos assinantes que chegam, bem-vindos!
Se cuidem. Mesmo!
Não sei como tinha perdido esse teu texto incrível, mas navegando por aqui, encontrei e como sempre, fiquei encantada com tua escrita. Quem dera eu tivesse lido antes! Lembro dos momentos de desespero e impotência que senti estando tão longe dos meus pais (a água cobriu quase dois metros do segundo andar da casa deles). Ver nossos amados, amigos e parentes que perderam tudo buscando forças para continuar foi devastador. Obrigada por escrever! Vou ficar mais atenta para não perder mais nada!!! Beijos!